"É hora de inventar alguma coisa para sofrer; afinal, não há nada mais difícil do que viver a felicidade |
POR MAIS louco que pareça, é difícil suportar a felicidade. Você conhece alguém feliz? Nem eu, e os poucos que têm tudo para serem felizes ficam inventando modas para complicar a vida.
Ter uma vida familiar satisfatória, sem nenhum daqueles problemas graves que existem em quase todas as famílias, já é raro. Além desse aspecto, ainda existem as relações entre os parentes, que na maioria das vezes costumam ser explosivas, para dizer o mínimo. Sogras odeiam noras -e vice-versa-, irmãs querem esfaquear as cunhadas, e levante as mãos para os céus se na sua família nunca existiu quem se engraçasse com quem não devia.
Se do lado familiar está tudo bem, o que já é raro, vamos ao profissional. Suponhamos que você, depois de muita luta, tenha conseguido chegar ao ponto que queria: bem de grana e prestígio na praça, o que não é pouco. Mas ainda falta o lado sentimental; como vai ele?
Por incrível que pareça, esse também vai bem. Encontrou a pessoa certa -quase certa, a bem dizer-, com quem os filhos se dão bem, a quem os amigos não torcem o nariz e até a família, que não deixa passar nada, aceita.
Além disso, está morando numa casa legal, tem o carro do ano, pode viajar mais ou menos para onde quer mais ou menos quando quer, e o resultado do último check up não poderia ter sido melhor. E mais: modéstia à parte, o visual não deixa a desejar, muito pelo contrário, e as mulheres estão chovendo na sua horta. Não são razões de sobra para estar feliz? São, e até demais. Então é hora de inventar alguma coisa, qualquer coisa, para sofrer; afinal, não há nada mais difícil do que viver a felicidade.
Um dos recursos mais usados é o medo. Ah, se ela me deixar; ah, se eu ficar doente; ah, se minha mãe morrer; ah, se eu perder o emprego; ah, se um incêndio queimar a minha casa; ah, se eu perder a inteligência e não puder mais trabalhar; ah, se a inflação voltar e não der para pagar as prestações do apartamento; ah, se o avião que vai me levar para fazer a mais maravilhosa de todas as viagens cair -e por aí vai.
As poucas pessoa felizes -e por isso são felizes- não têm medo de nada e nunca acham que a vida vai piorar, muito pelo contrário. Mas os que estão com a vida boa encontram sempre uma maneira de achar um drama
Se não é por aí, então quem sabe no trabalho? Como está tudo meio burocrático demais, fica pensando em como seria bom que fosse mandado para longe por uns tempos; até Brasília seria uma boa, só para mudar de ares e de função. Mas pensa na praia, na maravilha que é morar no Rio, e abandona a ideia antes que seja tarde. Mas, como não há nada mais monótono do que a felicidade, é preciso arranjar pelo menos um problema, um pequeno problema, para que a vida fique mais interessante, e isso é simples.
Basta pensar: e se sua felicidade acabar?"
Crônica de Danuza Leão, publicada na Folha de São Paulo de 22/11/2009.
Sorri
(Charles Chaplin)
Sorri, quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias, tristonhos, vazios
Sorri, quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri, quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros, cansados, doridos
Sorri, vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo vai supor
Que és feliz...
É maravilhoso Senhor...
Meus braços perfeitos,
Quando há tantos mutilados.
Meus olhos perfeitos,
Quando tantos não têm luz.
Minhas mãos que trabalham,
Quando tantas mendigam.
Minha voz que canta,
Quando tantas emudecem.
É maravilhoso voltar a casa,
Quantos não têm para onde voltar.
É bom sorrir, sonhar, viver, amar...
Mas há tantos que choram, odeiam,
Revolvem-se em pesadelos
E morrem antes de viver.
É maravilhoso ter um Deus para crer,
Quando há tantos que não possuem
O lenitivo de uma crença.
É maravilhoso Senhor...
É maravilhoso sobretudo,
Ter tão pouco a pedir,
E tanto que agradecer.
Meu Tejo
Formoso Tejo meu, quão diferente
Te vejo e vi, me vês agora e viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste,
Claro te vi eu já, tu a mim contente.
A ti foi-te trocando a grossa enchente
A quem teu largo campo não resiste;
A mim trocou-me a vista, em que consiste
O meu viver contente ou descontente.
Já que somos no mal participantes,
Sejamo-lo no bem. Oh! quem me dera
Que fôramos em tudo semelhantes!
Mas lá virá a fresca Primavera:
Tu tornarás a ser quem eras de antes,
Eu não sei se serei quem de antes era.
Autor;-Francisco Rodrigues Lobo
MAL SECRETO
Soneto de Raimundo correia
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma e destrói cada ilusão que nasce,
Se tudo que punge, tudo que devora
O coração, no rosto se estampasse.
Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente que talvez agora
Inveja nos causa, então piedade nos causasse.
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste,
Em parecer aos outros venturosa.
Quanta gente que r i talvez consigo,
Traz um atroz recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa.
Dinheiro
Dinheiro, artigo que pode ser usado como passaporte universal,
Menos para o céu.
E como meio de adquiri tudo,
Menos a felicidade.
Quem tem dinheiro tem tudo, diz-se tantas vezes:
E contudo,
Podes comprar alimentos,
Mas não apetite.
Podes comprar remédios,
Mas não a saúde.
Podes comprar criados,
Mas não a fidelidade.
Podes comprar conhecidos,
Mas não amigos
E, sobretudo,
Podes comprar uma bela sepultura para o teu corpo no cemitério,
Mas não podes comprar
Um lugar para a tua alma na vida eterna.
Ressurreição
Coqueiro! Eu te compreendo o sonho inatingível:
queres subir ao céu, mas prende-te a raiz...
O destino que tens de querer o impossível
é igual a este meu de querer ser feliz.
Por mais que bebas a seiva e que as forças recolhas,
que os verdes braços teus ergas aos céus risonhos,
no último esforço vão, caem-te murchas as folhas
e a mim, murchos, os sonhos!
Ai! coqueiro do mato! Ai! coqueiro do mato!
Em vão tentas os céus escalar na investida...
Tua sorte é tal qual a de Juca Mulato...
Ai! tu sempre serás um coqueiro do mato...
Ai! Eu sempre serei infeliz nesta vida!"
Autor: Menotti Del Pichia, (Juca Mulato)
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