quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

DERROTADOS PELO EXCESSO

Por Fátima Irene Pinto

Ao começar redigir este texto não sei se vou conseguir passar de forma clara, a essência daquilo que estou pensando porque há um excesso de informações na minha mente...acho que bem maior do que o meu cérebro pode suportar. Você já se sentiu derrotado pelo excesso?

E não se trata de algo que a gente possa controlar, administrar ou filtrar: é uma marca registrada do nosso tempo. No trabalho por exemplo, os informativos chegam aos borbotões e há que se mudar as regras do jogo num rítmo desenfreado.

Não há fixação, não há sedimentação, não há uma estrutura gradativa no fio condutor destas mudanças. Meu cérebro,como auto defesa, simplesmente emperra, enquanto os que tentam abarcar esta "onda-pororoca" sucumbem ao estresse profundo.

Observando crianças na escola, percebo que elas são sobrecarregadas de trabalhos, pesquisas, livros para ler, tendo ainda que fazer inglês e computação para não ficarem à margem da vida. Compadeço-me de meus sobrinhos na faculdade.

Após a maratona insana do vestibular, aguarda-os uma outra maratona que lhes rouba dias e noites de sossego, de lazer e de sono. Tão jovens e tão estressados!

Fico me perguntando se a vida não cobrará destas crianças e destes jovens, a infância e a juventude que não estão podendo viver. Sim, vivemos um tempo pautado pelo excesso e como consequência, pela superficialidade. Não se "forma" ninguém.

Apenas se "informa" e de modo tão excessivo, que é comum não se lembrar hoje, das muitas informações que se teve ontem. Não apenas informações, mas neste nosso tempo tudo se dá em larga escala.

Você sai e fica aprisionado no trânsito por excesso de carros. Você liga a tv e há canais em excesso. Você liga o rádio e se perde no meio das estações. Você vai ao shopping e se perde no excesso de lojas e, se entra nas lojas, você se perde no meio das marcas.

Utensílios que você compra hoje como sendo de última geração, em pouco tempo se tornam obsoletos. Se você tem uma disfunção orgânica há excesso de especialistas e um sem par de exames - que falta faz aquele antigo clínico geral, médico da família! E mesmo os remédios que você toma, são substituídos por outros mais modernos (e mais caros), de última geração.

Aliás, é de praxe hoje, tomar uma quantia excessiva de remédios para algo que poderia ser resolvido com um chá caseiro e um pouco de repouso. Se você vai ao banco pagar uma conta ou ao correio postar uma carta, você perde a calma na fila interminável.

Estou citando exemplos que estão vindo à mente mas com certeza, o leitor/a completará a lista com outras tantas menções ao tema a que me reporto.

Até já sei. Você deve ter pensado num excesso esmagador: impostos! Ou talvez no excesso de políticos corruptos. Cala-te boca!

Então, para fugir dos excessos do mundo lá fora, ou ao menos dar uma pausa, você vem para o Micro e, com certeza, há uma imensa possibilidade de você ser derrotado pelo excesso de programas, e-mails, sites, chats, spans e amizades virtuais que, exatamente pelo excesso, têm o mesmo teor de superficialidade, com raríssimas exceções.

Resista bravamente, afinal aqui ainda é o seu local preferido! Mas... se você sucumbir, cantarole comigo a canção que entôo neste momento: "Eu queria ter na vida simplesmente. Um lugar de mato verde, pra plantar e pra colher. Ter uma casinha branca de varanda. Um quintal e uma janela Para ver o sol nascer." (No livro Ecos da Alma)

Casinha Branca
(Gilson e Joram)

Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo à minha frente nada que me dê prazer...
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade tanto sonho perecer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela só pra ver o sol nascer
Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizade
Vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seu mistério seu sofrer, sua ilusão
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Só pra ver o sol nascer.

Autora: Fátima Irene Pinto

NORMOSE

Por Martha Medeiros

Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal. Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido.

Quem não se "normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós? Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas?

Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, seja lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo.

A normose não é brincadeira. Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa de quantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar?

Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original.

Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros.

É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.

Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera.

Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam, se quisessem, ser bem mais autênticos e felizes.

Autora: Martha Medeiros

OS RICOS E POBRES

Por Martha Medeiros
Anos atrás escrevi sobre um apresentador de televisão que ganhava R$1 milhão por mês e que em entrevista vangloriava-se de nunca ter lido um livro na vida. Classifiquei-o imediatamente como um exemplo de pessoa pobre.
Agora leio uma declaração do publicitário Washington Olivetto em que ele fala sobre isso de forma exemplar. Ele diz que há no mundo os ricos-ricos (que têm dinheiro e têm cultura), os pobres-ricos (que não têm dinheiro mas são agitadores intelectuais, possuem antenas que captam boas e novas idéias) e os ricos-pobres, que são a pior
espécie: têm dinheiro mas não gastam um único tostão da sua fortuna em livrarias, shows ou galerias de arte, apenas torram em futilidades e propagam a ignorância e a grosseria.

Os ricos-ricos movimentam a economia gastando em cultura, educação e viagens, e com isso propagam o que conhecem e divulgam bons hábitos. Os pobres-ricos não têm saldo invejável no banco, mas são criativos, efervescentes, abertos.
A riqueza destes dois grupos está na qualidade da
informação que possuem, na sua curiosidade, na inteligência que cultivam e passam adiante.

São estes dois grupos que fazem com que uma nação se desenvolva. Infelizmente, são os dois grupos menos representativos da sociedade brasileira. O que temos aqui, em maior número, é um grupo que Olivetto nem mencionou, os pobres-pobres, que devido ao baixíssimo poder aquisitivo e quase inexistente acesso à cultura, infelizmente não ganham, não gastam, não aprendem e não ensinam: ficam à margem, feito zumbis.
E temos os ricos-pobres, que têm o bolso cheio e poderiam ajudar a fazer deste país um lugar que mereça ser chamado de civilizado, mas que nada: eles só propagam atraso, só propagam arrogância, só propagam sua pobreza de espírito.
Exemplos? Vou começar por uma cena que testemunhei semana passada. Estava dirigindo quando o sinal fechou. Parei atrás de um Audi preto do ano. Carrão. Dentro, um sujeito de terno e gravata que, cheio de si, não teve dúvida: abriu o vidro automático, amassou uma embalagem de cigarro vazia e a jogou pela janela no meio da rua, como se o asfalto fosse uma lixeira pública.
O Audi é só um disfarce que ele pôde comprar, no fundo é um pobretão que só tem a oferecer sua miséria existencial.
Os ricos-pobres não têm verniz, não têm sensibilidade, não têm alcance para ir além do óbvio. Só têm dinheiro. Os ricos-pobres pedem no restaurante o vinho mais caro e tratam o garçom com desdém, vestem-se de Prada e sentam com as pernas abertas, viajam para Paris e não sabem quem foi Degas ou Monet, possuem tevês de plasma em todos os aposentos da casa e só assistem programas de auditório, mandam o filho pra Disney e nunca foram a uma reunião da escola. E, claro, dirigem um Audi e jogam lixo pela janela. Uma esmolinha para eles, pelo amor de Deus.
O Brasil tem saída se deixar de ser preconceituoso com os ricos-ricos (que ganham dinheiro honestamente e sabem que ele serve não só para proporcionar conforto, mas também para promover o conhecimento) e se valorizar os pobres-ricos, que são aqueles inúmeros indivíduos que fazem malabarismo para sobreviver mas, por outro lado, são interessados em teatro, música, cinema, literatura, moda, esportes, gastronomia, tecnologia e, principalmente, interessados nos outros seres humanos, fazendo da sua cidade um lugar desafiante e empolgante.
É este o luxo de que precisamos, porque luxo é ter recursos para melhorar o mundo que nos coube. E recurso não é só money: é atitude e informação.
Autora: Martha Medeiros, gaúcha, 44 anos, jornalista e poeta. E gente muito fina, claro...

TENTE OUTRA VEZ

Até que ponto se busca algo? Qual o limite? Até enquanto a vontade existir e encorajar?

Até alcançar o que se busca? Ou pelo momento que a esperança perder sua força, num alerta sobre nossa impotência em face do objetivo? Ou ainda até o ponto em que a massa física, impulsionada pelos estímulos mentais, suportarem o peso de todos os impasses?

O tempo cuida de encontrar as respostas para as dúvidas que afligem a existência. Ocorre que algumas respostas suscitam novas perguntas e dúvidas.

Contudo, temos retirado das conclusões anteriores algumas lições importantes e proveitosas, que acabam enriquecendo o conhecimento do mundo e da sua complexa engrenagem. É a experiência.

Parece que a experiência nos deixa mais ricos em opções. Se a ignorância é a causa do sofrimento, o conhecimento é o seu atenuador. Conhecendo o caminho, sabemos como chegar. Entendendo-o, chegamos com menos sofrimento. Um preceito básico.

Inexperiência deixa o espírito tão vulnerável quanto a maturidade apurada. Na primeira não temos as respostas exatas, mas como a juventude desconhece o perigo, a impetuosidade afasta o medo e leva o corpo a agir. Por outro lado, a maturidade proporciona sabedoria e domínio, mas cria medos.

Medos como o da solidão, da velhice e da morte aterrorizam, na grande maioria, aqueles que alcançaram a maturidade mental. Sociável por natureza, o homem se apavora frente à possibilidade de conviver com a solidão. Esta, com mais freqüência, ocorre na fase da velhice.

A morte não se torna uma preocupação da juventude porque o ser humano espera contar com a velhice. Mas não custa lembrar: esta, por mais chata que seja, sempre é melhor que aquela. Razão: estatísticas mostram que a maioria dos suicidas se arrepende do ato precipitado.

Voltando ao início do questionamento, pergunto-me: "Até onde somos capazes de insistir em determinado rumo ou projeto?" Até onde provarmos que ele valerá o esforço. Esta é uma resposta convincente, talvez. E se provarmos, somente depois de anos ou décadas de envolvimento, que não valeu a pena? Tudo vale enquanto não se prove o contrário.

O correto certamente é campear a antecipação do conhecimento, reduzindo a ignorância ao mínimo. Não importa se vai aprender com o erro, o que importa é aprender. E se possível, com o mínimo de erros, claro!

Numa canção Tim Maia diz que precisa contar suas agruras ao mundo inteiro, que não pode ouvi-lo. E ele acaba por aceitar que na vida uns nascem para sofrer enquanto outros riem. Prefiro seguir o caminho de Raul quando ensina algo mais animador ao cantar que a canção e a vitória não estão perdidas. E que é de batalhas que se vive. A lição é simples: Se errar, tente outra vez!

Autor: Célio Furtado
Jornalista e Artista Plástico

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

As crenças

Ao alegar suas limitações, as pessoas dizem: “eu não posso fazer tal coisa porque...” E, a desculpa comum é do tipo – "é assim que eu sou". Mas, a verdade mais provável é: "é assim que eu penso que sou".

Nós podemos aprender sobre nossas crenças estudando os peixes... Compre um aquário e divida-o pela metade com uma parede de vidro transparente. Depois arranje uma tainha e uma barracuda – peixe que come tainha. Ponha cada um de um lado e, no mesmo instante a barracuda vai avançar para pegar a tainha só que... bumba!... entra de cara na parede de vidro.

Ela vai recuar e atacar outra vez e... bumba!... Em uma semana a barracuda vai estar com o nariz bem inchado e, percebendo que caçar tainha é sinônimo de dor, acaba desistindo. Aí, removendo a parede de vidro sabe o que acontece?

Ela passará o resto da vida no seu lado do aquário; será até capaz de morrer de fome, mesmo tendo uma bela tainha nadando a poucos centímetros dela. Mas como conhece seus limites não vai ultrapassá-los. A história da barracuda é triste? Pois essa é também a história de todo ser humano.

Nós não colidimos com paredes de vidro, mas colidimos com professores, pais, amigos que nos dizem o que nos convém e o que podemos fazer. Pior ainda, colidimos com nossas próprias crençassão elas que delimitam nosso território, é isso que alegamos para não ultrapassar os limites... Ou seja, criamos nossas gaiolas de vidro e pensamos que é realidade.

Na verdade é apenas aquilo em que nós acreditamos... Quase todos nós temos uma história, e nos rotulamos... “eu sou professor”, “eu sou avó”, “eu sou... Essa nossa história é como um programa de computador instalado entre nossas orelhas, que nos controla a vida...

Nós o levamos ao trabalho, nas viagens de férias, nas festas... enfim passamos a vida tentando nos adaptar à história... Tentar ajustar-se a uma história torna qualquer um infeliz... Eis então a dica: você não é a sua história e ninguém dá a mínima para isso.

Você não pertence a uma categoria, a um compartimento. Você é um ser humano justamente porque tem uma série de experiências. E, quando você parar de arrastar uma história por aí, você vai ser muito mais feliz”...

(texto de Andrew Matthews, do livro “Siga seu coração”)

A nova minoria

É um grupo formado por poucos integrantes. Acredito que hoje estejam até em menor número do que a comunidade indígena, que se tornou minoria por força da dizimação de suas tribos. A minoria a que me refiro também está sendo exterminada do planeta, e pouca gente tem se dado conta. Me refiro aos sensatos.


A comunidade dos sensatos nunca se organizou formalmente. Seus antepassados acasalaram-se com insensatos, e geraram filhos e netos e bisnetos mistos, o que poderia ser considerada uma bem-vinda diversidade cultural, mas não resultou em grande coisa. Os seres mistos seguiram procriando com outros insensatos, até que a insensatez passou a ser o gene dominante da raça. Restaram poucos sensatos puros.

Reconhecê-los não é difícil. Eles costumam ser objetivos em suas conversas, dizendo claramente o que pensam e baseando seus argumentos no raro e desprestigiado bom senso. Analisam as situações por mais de um ângulo antes de se posicionarem. Tomam decisões justas, mesmo que para isso tenham que ferir suscetibilidades. Não se comovem com os exageros e delírios de seus pares, preferindo manter-se do lado da razão. Serão pessoas frias? É o que dizem deles, mas ninguém imagina como sofrem intimamente por não serem compreendidos.

O sensato age de forma óbvia. Ele conhece o caminho mais curto para fazer as coisas acontecerem, mas as coisas só acontecem quando há um empenho conjunto. Sozinho ele não pode fazer nada contra a avassaladora reação dos que, diferentemente dele, dedicam suas vidas a complicar tudo. Para a maioria, a simplicidade é sempre suspeita, vá entender.

O sensato obedece a regras ancestrais, como, por exemplo, dar valor ao que é emocional e desprezar o que é mesquinho. Ele não ocupa o tempo dos outros com fofocas maldosas e de origem incerta. Ele não concorda com muita coisa que lê e ouve por aí, mas nem por isso exercita o espírito de porco agredindo pessoas que não conhece. Se é impelido a se manifestar, defende sua posição com ideias, sem precisar usar o recurso da violência.

O sensato não considera careta cumprir as leis, é a parte facilitadora do cotidiano
. A loucura dele é mais sofisticada, envolve rompimento com algumas convenções, sim, mas convenções particulares, que não afetam a vida pública. O sensato está longe de ser um certinho. Ele tem personalidade, e se as coisas funcionam pra ele, é porque ele tem foco e não se desperdiça, utiliza seu potencial em busca de eficácia, em vez de gastar sua energia com teatralizações que dão em nada.

O sensato privilegia tudo o que possui conteúdo, pois está de acordo com a máxima que diz que mais grave do que ter uma vida curta é ter uma vida pequena. Sendo assim, ele faz valer o seu tempo. Reconhece que o Big Brother é um passatempo curioso, por exemplo, mas não tem estômago para aquela sequência de conversas inaproveitáveis. É o vazio da banalidade passando de geração para geração.

Ouvi de um sensato, dia desses: “Perdi minha turma. Eu convivia com pessoas criativas, que falavam a minha língua, que prezavam a liberdade, pessoas antenadas que não perdiam tempo com mediocridades. A gente se dispersou”. Ele parecia um índio.

Mesmo com poucas chances de sobrevivência, que se morra em combate. Sensatos, resistam.

(texto de Martha Medeiros, publicado em 20/janeiro/2010 no jornal Zero Hora/RS)

Sobre a morte e o morrer



O que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de
um ser humano? O que e quem a define?


Já tive medo da morte. Hoje não tenho mais. O que sinto é uma enorme tristeza. Concordo com Mário Quintana: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é deixar de viver." A vida é tão boa! Não quero ir embora...

Eram 6h. Minha filha me acordou. Ela tinha três anos. Fez-me então a pergunta que eu nunca imaginara: "Papai, quando você morrer, você vai sentir saudades?". Emudeci. Não sabia o que dizer. Ela entendeu e veio em meu socorro: "Não chore, que eu vou te abraçar..." Ela, menina de três anos, sabia que a morte é onde mora a saudade.

Cecília Meireles sentia algo parecido: "E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega... O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias... Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso.
Que pena a vida ser só isto...”

Da. Clara era uma velhinha de 95 anos, lá em Minas. Vivia uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. Na cama, cega, a filha lhe lia a Bíblia. De repente, ela fez um gesto, interrompendo a leitura. O que ela tinha a dizer era infinitamente mais importante. "Minha filha, sei que minha hora está chegando...
Mas, que pena! A vida é tão boa...”

Mas tenho muito medo do morrer. O morrer pode vir acompanhado de dores, humilhações, aparelhos e tubos enfiados no meu corpo, contra a minha vontade, sem que eu nada possa fazer, porque já não sou mais dono de mim mesmo; solidão, ninguém tem coragem ou palavras para, de mãos dadas comigo, falar sobre a minha morte, medo de que a passagem seja demorada. Bom seria se, depois de anunciada, ela acontecesse de forma mansa e sem dores, longe dos hospitais, em meio às pessoas que se ama, em meio a visões de beleza.

Mas a medicina não entende. Um amigo contou-me dos últimos dias do seu pai, já bem velho. As dores eram terríveis. Era-lhe insuportável a visão do sofrimento do pai. Dirigiu-se, então, ao médico: "O senhor não poderia aumentar a dose dos analgésicos, para que meu pai não sofra?". O médico olhou-o com olhar severo e disse: "O senhor está sugerindo que eu pratique a eutanásia?".

Há dores que fazem sentido, como as dores do parto: uma vida nova está nascendo. Mas há dores que não fazem sentido nenhum. Seu velho pai morreu sofrendo uma dor inútil. Qual foi o ganho humano? Que eu saiba, apenas a consciência apaziguada do médico, que dormiu em paz por haver feito aquilo que o costume mandava; costume a que freqüentemente se dá o nome de ética.

Um outro velhinho querido, 92 anos, cego, surdo, todos os esfíncteres sem controle, numa cama -de repente um acontecimento feliz! O coração parou. Ah, com certeza fora o seu anjo da guarda, que assim punha um fim à sua miséria! Mas o médico, movido pelos automatismos costumeiros, apressou-se a cumprir seu dever: debruçou-se sobre o velhinho e o fez respirar de novo. Sofreu inutilmente por mais dois dias antes de tocar de novo o acorde final.

Dir-me-ão que é dever dos médicos fazer todo o possível para que a vida continue. Eu também, da minha forma, luto pela vida. A literatura tem o poder de ressuscitar os mortos. Aprendi com Albert Schweitzer que a "reverência pela vida" é o supremo princípio ético do amor.
Mas o que é vida? Mais precisamente, o que é a vida de um ser humano? O que e quem a define? O coração que continua a bater num corpo aparentemente morto? Ou serão os ziguezagues nos vídeos dos monitores, que indicam a presença de ondas cerebrais?

Confesso que, na minha experiência de ser humano, nunca me encontrei com a vida sob a forma de batidas de coração ou ondas cerebrais
. A vida humana não se define biologicamente. Permanecemos humanos enquanto existe em nós a esperança da beleza e da alegria. Morta a possibilidade de sentir alegria ou gozar a beleza, o corpo se transforma numa casca de cigarra vazia.

Muitos dos chamados "recursos heróicos" para manter vivo um paciente são, do meu ponto de vista, uma violência ao princípio da "reverência pela vida". Porque, se os médicos dessem ouvidos ao pedido que a vida está fazendo, eles a ouviriam dizer: "Liberta-me".

Comovi-me com o drama do jovem francês Vincent Humbert, de 22 anos, há três anos cego, surdo, mudo, tetraplégico, vítima de um acidente automobilístico. Comunicava-se por meio do único dedo que podia movimentar. E foi assim que escreveu um livro em que dizia: "Morri em 24 de setembro de 2000. Desde aquele dia, eu não vivo. Fazem-me viver. Para quem, para que, eu não sei...". Implorava que lhe dessem o direito de morrer. Como as autoridades, movidas pelo costume e pelas leis, se recusassem, sua mãe realizou seu desejo. A morte o libertou do sofrimento.

Dizem as escrituras sagradas: "Para tudo há o seu tempo. Há tempo para nascer e tempo para morrer". A morte e a vida não são contrárias. São irmãs. A "reverência pela vida" exige que sejamos sábios para permitir que a morte chegue quando a vida deseja ir. Cheguei a sugerir uma nova especialidade médica, simétrica à obstetrícia: a "morienterapia", o cuidado com os que estão morrendo. A missão da morienterapia seria cuidar da vida que se prepara para partir. Cuidar para que ela seja mansa, sem dores e cercada de amigos, longe de UTIs. Já encontrei a padroeira para essa nova especialidade: a "Pietà" de Michelangelo, com o Cristo morto nos seus braços. Nos braços daquela mãe o morrer deixa de causar medo.

(texto de Rubem Alves - o último antes de sua morte - publicado no jornal “Folha de São Paulo” em 12/10/03)

MUDANÇAS

Estamos sempre mudando, nada é exatamente
igual ao que foi a um segundo atrás.

Estamos sempre partindo
e sempre chegando em algum lugar.

Nossa vida é uma estrada,
que pode ser longa ou curta
não sabemos onde tem curvas
e nem tão pouco onde vamos chegar.

Olhar atrás, ver o que ficou
às vezes nos custa uma lágrima,
um aperto no coração, da mesma forma
que olhamos pra frente e sabemos
que temos que seguir sem saber
o que vamos encontrar.

Nossa jornada não tem fim
e quando pensamos que terminou
ela apenas parou para tomarmos fôlego
e continuar aqui ou em outra dimensão.

Estamos sempre lutando por novas conquistas,
sempre conhecendo pessoas
que são muito diferentes umas das outras.

Muitas nada acrescentam,
outras nos magoam e nos fazem sofrer,
mas tem aquelas que nunca queremos esquecer.

É como o sol em dias de chuva
que nem precisa aparecer,
pois sabemos que ele existe
e onde podemos encontrá-lo.

Assim são os verdadeiros amigos,
sabemos que com eles sempre poderemos contar.

Desejamos sempre tê-los ao nosso lado,
nos trazem felicidades e alegrias.

Mas acredite, essas pessoas que não nos agradam
também tem seu devido valor,
pois são elas que nos impulsionam
para que possamos buscar novos horizontes
e quando partimos aí somos reconhecidos,
e sentem nossa falta.

O importante em nossa vida, é nunca esquecer
de todas as pessoas que por nós passaram,
porque por um motivo ou por outro
fizeram parte de nossos dias...

Autor desconhecido:

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Como Lidar Com o Medo

As más notícias já viraram rotina nas manchetes dos jornais. Do trote no celular ao risco de ser atingido por uma bala perdida, o clima geral contamina e provoca insegurança, raiva, impotência e medo. Veja como essas emoções atingem o corpo e aprenda a controlar esse impacto.

Tem aumentado o número de pessoas que procuram um tratamento psicoterapêutico depois de passar por um assalto ou um seqüestro relâmpago. Essa é a opinião da assistente social Luzia Fátima Baierl, que também coordena o Núcleo Violência e Justiça da Faculdade de Serviço Social da PUC, em São Paulo. Segundo ela, além do medo individual, existe um medo real que vem do coletivo. "É isso que faz com que fechemos automaticamente o vidro do carro no farol. Esse medo social imobiliza", diz Luzia.


Não há como negar que todos estão expostos a esse clima de violência urbana e falta de segurança, também é verdade que só alguns se sentem mais frágeis diante isso. Felizmente, a maioria conta com uma arma psicológica que poderia ser chamada de 'pensamento mágico', a crença de que nada ruim vai lhe acontecer... Quem pensa racionalmente em todos os perigos que sempre rondam acaba sem sair de casa.


Para viver, é preciso acreditar nesse pensamento mágico, uma força psíquica que pode ser Deus, mas também pode não ter nada a ver com religião. É uma fé que traz segurança pessoal. Quando isso não acontece, você abre caminho para que se instalem medos patológicos, "normais" ou subjetivos - de escuro, de avião, de trovão ou de bandido -, típicos de qualquer situação em que a pessoa não se sente suficientemente forte para atacar e se defender.

Dessas situações surgem quadros de medo crônico, terror noturno ou síndrome do pânico, atingindo pessoas que, na prática, costumam ter algumas características emocionais parecidas, como auto-estima rebaixada e a sensação constante de fragilidade...


Receitas para acalmar:

Técnicas de relaxamento: - Quando sentimos medo, prendemos a respiração. Assim, o primeiro antídoto é tentar relaxar respirando profundamente. Todos os exercícios de respiração aumentam a capacidade de controlar as sensações internas do corpo. E as técnicas que favorecem o relaxamento combatem os sintomas do medo: yoga, meditação, shiatsu, acupuntura, são indicadas.


Neurolingüística: - Mudar o padrão de nossos pensamentos é um dos caminhos para tentar driblar o medo. Alguns exercícios que podem ajudar: coloque a mão direita na testa e a esquerda na nuca. Tente lembrar de uma paisagem da natureza e recrie mentalmente todo o ambiente, com os cheiros e ruídos da cena. Pratique também a técnica da associação: se sentir medo dentro do avião, por exemplo, faça algo que esteja relacionado com seus momentos de prazer. Você pode reler um livro que foi empolgante, comer algo de que gosta ou apenas lembrar de uma situação feliz...


Alimentação: no livro "Mentes com Medo" (Integrare Editora), a psiquiatra Ana Beatriz recomenda incrementar o consumo de verduras, especialmente as ricas em cálcio, magnésio e potássio - como acelga, espinafre, brócolis, couve, folhas de beterraba e mostarda -, além das que contêm vitamina C, como couve-de-bruxelas, salsa e couve-flor. Fontes dos mesmos nutrientes, frutas como morango, amora, melão, laranja, uva e banana também entram na lista. A médica recomenda incluir no cardápio antimedo feijões, ervilhas, cereais integrais, sementes e nozes, aves e peixes. E evitar todos os estimulantes, como cafeína, açúcar e álcool, além de consumir carnes vermelhas e laticínios com moderação...

O medo dispara a produção de cortisol, o hormônio do estresse, que, entre outras conseqüências, provoca o acúmulo de gorduras. Também é sob efeito do medo que o fígado acelera a produção de colesterol. Aumenta, ainda, a produção de adrenalina, que causa taquicardia e sudorese. Na mesma proporção, cai o nível de serotonina, provocando a sensação de angústia, desconforto, mal-estar e fome. Durante uma crise, porém, é comum que o apetite 'trave' - em casos graves, o medo provoca anorexia, explica o endrocrinologista Tércio Rocha, do Rio de Janeiro. Segundo ele, os hormônios ligados ao medo têm uma ação destrutiva sobre os neurotransmissores, associados aos processos de envelhecimento, aumento de peso e inchaço.


Por outro lado, também é verdade que certas disfunções físicas podem criar sintomas associados ao medo. Veja as situações mais comuns:


A falta ou o excesso do hormônio tireoidiano provoca distúrbios físicos e também psicológicos, como sensação de vulnerabilidade constante, medo e opressão.

A falta de vitaminas do complexo B, especialmente B12, B6 e B3 também pode produzir reações físicas ligadas aos sentimentos de medo.

A carência de substâncias como serotonina e dopamina, além da deficiência de hormônios sexuais, que são detectáveis através de exames de sangue, também podem se traduzir em angústia e medo...

Sentir medo sem motivo aponta para um problema físico: as disfunções da tireóide também podem provocar esse tipo de emoção...

(Por Silvana Tavano - Marie Claire – abril 2007)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

LIÇÕES QUE A VIDA ME ENSINOU

ESCRITO POR REGINA BRETT, 90 ANOS, CLEAVELAND, OHIO.


"Para celebrar o envelhecer, uma vez eu escrevi 45 lições que a vida me ensinou. É a coluna mais requisitada que eu já escrevi. Meu taxímetro chegou aos 90 em agosto, então, aqui está a coluna, mais uma vez:

1. A vida não é justa, mas ainda é boa.

2. Quando estiver em dúvida, apenas dê o próximo pequeno passo.

3. A vida é muito curta para perdermos tempo odiando alguém.

4. Seu trabalho não vai cuidar de você quando você adoecer.

5. Pague suas faturas de cartão de crédito todo mês.

6. Você não tem que vencer todo argumento. Concorde para discordar.

7. Chore com alguém. É mais curador do que chorar sozinho.

8. Está tudo bem em ficar bravo com Deus. Ele agüenta.

9. Poupe para a aposentadoria, começando com seu primeiro salário.

10. Quando se trata de chocolate, resistência é em vão.

11. Sele a paz com seu passado, para que ele não estrague seu presente.

12. Está tudo bem em seus filhos te verem chorar.

13. Não compare sua vida com a dos outros.
Você não tem idéia do que se trata a jornada deles.

14. Se um relacionamento tem que ser um segredo, você não deveria estar nele.

15 Tudo pode mudar num piscar de olhos; mas não se preocupe, Deus nunca pisca.

16. Respire bem fundo. Isso acalma a mente.

17. Se desfaça de tudo que não é útil, bonito e prazeroso.

18. O que não te mata, realmente te torna mais forte.

19. Nunca é tarde demais para se ter uma infância feliz.Mas a segunda só depende de você e mais ninguém.

20. Quando se trata de ir atrás do que você ama na vida, não aceite "não" como resposta.

21. Acenda velas, coloque os lençóis bonitos, use a lingerie elegante.Não guarde para uma ocasião especial. Hoje é especial.

22. Se prepare bastante; depois, se deixe levar pela maré...

23. Seja excêntrico agora, não espere ficar velho para usar roxo.

24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.

25. Ninguém é responsável pela sua felicidade, além de você.

26. Encare cada "chamado" desastre com essas palavras: Em cinco anos, vai importar?

27. Sempre escolha a vida.

28. Perdoe tudo de todos.

29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.

30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo.

31. Independentemente de a situação ser boa ou ruim, irá mudar.

32. Não se leve tão a sério. Ninguém mais leva...

33. Acredite em milagres.

34. Deus te ama por causa de quem Ele é, não pelo que vc fez ou deixou de fazer.

35. Não faça auditoria de sua vida. Apareça e faça o melhor dela agora.

36. Envelhecer é melhor do que morrer jovem.

37. Seus filhos só têm uma infância.

38. Tudo o que realmente importa, no final, é que você amou.

39. Vá para a rua todo dia. Milagres estão esperando em todos os lugares.

40. Se todos jogássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos os de todo mundo,pegaríamos os nossos de volta.

41. Inveja é perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.

42. O melhor está por vir.

43. Não importa como vc se sinta, levante, se vista e apareça.

44. Produza.

45. A vida não vem embrulhada em um laço, mas ainda é um presente"

sábado, 2 de janeiro de 2010

O RISO

Partilhamos a nossa capacidade de rir com os nossos companheiros primatas - por exemplo, os chimpanzés "riem" se lhes fazem cócegas. O homem primitivo mostrava os dentes em sinal de agressão, ameaça ou advertência.

Mas contorcendo o rosto ao mesmo tempo em que produzia sons estranhos, inarticulados e ritmados, ele transformava a agressão em afabilidade, a advertência em recepção cordial. "Quer lutar?" transformava-se em "Quer brincar?"

Rir em conjunto é um modo de fortalecer os laços sociais entre as pessoas, pois o riso nos faz sair de nós mesmos e fornece o contato humano de que necessitamos para sobreviver. Mas traz outros benefícios. Quando rimos, fazemos entrar e sair mais ar dos pulmões do que durante a respiração normal e regular.

Portanto, quando rimos, podemos estar introduzindo mais oxigênio no sangue, (estimulando a circulação). A freqüência cardíaca aumenta também, ajudando todo o processo. Estudos de amostras de sangue colhidas enquanto as pessoas riam mostraram níveis mais elevados dos hormônios de estimulação - a adrenalina e a noradrenalina. Durante um acesso de riso, ficamos fisicamente mais excitados e, conseqüentemente, poderemos depois ficar mentalmente mais alertas. Finalmente, quando rimos, experimentamos ao mesmo tempo uma explosão de atividade, seguida de um período de relaxamento em que os nossos músculos se encontram menos tensos do que estavam antes.

Esses ciclos de tensão e relaxamento alternados impedem-nos, sobretudo de ficar fisicamente nervosos com os problemas do dia-a-dia. Os benefícios mentais relacionam-se mais com o nosso estado de humor do que propriamente com o ato de rir.

Encarar um problema de modo divertido quebra a sensação opressiva de tensão que geralmente o acompanha, e uma dificuldade intimidante torna-se repentinamente controlável. Os psicólogos encaram o humor também como uma forma vital de lidar com os problemas do dia-a-dia. O riso ajuda a promover e a manter a saúde mental, pois as pessoas com um sentido de humor bem desenvolvido têm geralmente menos problemas emocionais do que as que sentem dificuldade em rir ... em especial delas próprias. E a saúde mental pode promover a saúde física, como revelou um estudo norte americano realizado durante trinta anos.

Os médicos observaram um grupo de homens desde a infância até a meia-idade. Descobriram que os rapazes com boa saúde mental tinham comparativamente menos doenças depois dos 40 anos. Por outro lado, os que haviam tido problemas emocionais enquanto ainda eram estudantes tinham muito mais problemas físicos quando atingiam a meia-idade. Os cientistas concluíram, a partir desses resultados, que uma boa saúde mental revelada por um bom sentido de humor - retarda a inevitável deterioração da saúde física que vem com a idade.

O riso tem, portanto, uma história curiosa e contraditória. Originalmente um sinal de hostilidade, transformou-se em signo de atração mútua. Pessoas que riem quando estão juntas - como os maridos e as mulheres - têm mais chances de continuarem juntas. E o riso é um sinal superficial de algo mais profundo e mais significativo - reflete um modo especial de encarar o mundo que nos faz sentir melhor e pode até nos ajudar a viver mais tempo.

Autor: Dr. Roberto Leal Boohrem

RECEITA DE ANO NOVO

Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,novo até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?).

Não precisa fazer lista de boas intenções para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar de arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto da esperança a partir de janeiro as coisas mudem e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um ano-novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.

Autor: Carlos Drummond de Andrade
Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.


FELIZ ANO NOVO

Carlos Drummond de Andrade

"...Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança fazendo-a funcionar no limite da exaustão.

Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser diferente."