quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

DERROTADOS PELO EXCESSO

Por Fátima Irene Pinto

Ao começar redigir este texto não sei se vou conseguir passar de forma clara, a essência daquilo que estou pensando porque há um excesso de informações na minha mente...acho que bem maior do que o meu cérebro pode suportar. Você já se sentiu derrotado pelo excesso?

E não se trata de algo que a gente possa controlar, administrar ou filtrar: é uma marca registrada do nosso tempo. No trabalho por exemplo, os informativos chegam aos borbotões e há que se mudar as regras do jogo num rítmo desenfreado.

Não há fixação, não há sedimentação, não há uma estrutura gradativa no fio condutor destas mudanças. Meu cérebro,como auto defesa, simplesmente emperra, enquanto os que tentam abarcar esta "onda-pororoca" sucumbem ao estresse profundo.

Observando crianças na escola, percebo que elas são sobrecarregadas de trabalhos, pesquisas, livros para ler, tendo ainda que fazer inglês e computação para não ficarem à margem da vida. Compadeço-me de meus sobrinhos na faculdade.

Após a maratona insana do vestibular, aguarda-os uma outra maratona que lhes rouba dias e noites de sossego, de lazer e de sono. Tão jovens e tão estressados!

Fico me perguntando se a vida não cobrará destas crianças e destes jovens, a infância e a juventude que não estão podendo viver. Sim, vivemos um tempo pautado pelo excesso e como consequência, pela superficialidade. Não se "forma" ninguém.

Apenas se "informa" e de modo tão excessivo, que é comum não se lembrar hoje, das muitas informações que se teve ontem. Não apenas informações, mas neste nosso tempo tudo se dá em larga escala.

Você sai e fica aprisionado no trânsito por excesso de carros. Você liga a tv e há canais em excesso. Você liga o rádio e se perde no meio das estações. Você vai ao shopping e se perde no excesso de lojas e, se entra nas lojas, você se perde no meio das marcas.

Utensílios que você compra hoje como sendo de última geração, em pouco tempo se tornam obsoletos. Se você tem uma disfunção orgânica há excesso de especialistas e um sem par de exames - que falta faz aquele antigo clínico geral, médico da família! E mesmo os remédios que você toma, são substituídos por outros mais modernos (e mais caros), de última geração.

Aliás, é de praxe hoje, tomar uma quantia excessiva de remédios para algo que poderia ser resolvido com um chá caseiro e um pouco de repouso. Se você vai ao banco pagar uma conta ou ao correio postar uma carta, você perde a calma na fila interminável.

Estou citando exemplos que estão vindo à mente mas com certeza, o leitor/a completará a lista com outras tantas menções ao tema a que me reporto.

Até já sei. Você deve ter pensado num excesso esmagador: impostos! Ou talvez no excesso de políticos corruptos. Cala-te boca!

Então, para fugir dos excessos do mundo lá fora, ou ao menos dar uma pausa, você vem para o Micro e, com certeza, há uma imensa possibilidade de você ser derrotado pelo excesso de programas, e-mails, sites, chats, spans e amizades virtuais que, exatamente pelo excesso, têm o mesmo teor de superficialidade, com raríssimas exceções.

Resista bravamente, afinal aqui ainda é o seu local preferido! Mas... se você sucumbir, cantarole comigo a canção que entôo neste momento: "Eu queria ter na vida simplesmente. Um lugar de mato verde, pra plantar e pra colher. Ter uma casinha branca de varanda. Um quintal e uma janela Para ver o sol nascer." (No livro Ecos da Alma)

Casinha Branca
(Gilson e Joram)

Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo à minha frente nada que me dê prazer...
Sinto cada vez mais longe a felicidade
Vendo em minha mocidade tanto sonho perecer
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela só pra ver o sol nascer
Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizade
Vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seu mistério seu sofrer, sua ilusão
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Só pra ver o sol nascer.

Autora: Fátima Irene Pinto

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