Em meio à multidão que se acotovela na procissão no Domingo de Ramos, uma mulher desesperada procura por sua filha pequena. Muitas lágrimas e alguns copos de água com açúcar depois, aparece a menina mais que feliz, abraçada a um mendigo que, frente às evidências, jamais passara pela insólita experiência de um banho. A mulher, minha mãe. A criança desgarrada, eu.
Já vai longe aquela Semana Santa, e essa história que minha mãe contava, me vem à memória quando me acometem considerações sobre as delícias de um abraço.
Abraço. Tantas são as definições. Entretanto, nenhuma delas apreende o real significado dessa troca de energia.
A larga experiência nessa prática, à qual sou afeita e militante. me assegura que não todas as pessoas têm disposição e competência para esse entrelaçamento de corpo e de alma. Dois em um, um em dois, despidos dos pudores sem juízo, inoculados e em nós sedimentados graças à repressão das espontâneas demonstrações físicas de sentimentos e emoções.
Abraço, essa prosaica iguaria afetiva, recurso de partilhamento, intimidade permitida em público, é também eficiente curativo para contusões no ego, tombos da auto-estima, lesões na vaidade, vendaval na vida interior de todas as pessoas. Estreita os laços, amplia a amizade, quebra o gelo, esquenta o clima, esfria os espíritos esquentados. É entrega e aceitação, doação e acolhimento. Abraço é isso, igual em seu contrário.
Que graça teria a vida sem a invenção do abraço?...
Abraço não tem contra-indicação, tampouco efeitos nocivos, apenas os seus adoráveis efeitos colaterais. Abraço não tem preço; custa nada.
E o melhor: está ao alcance dos seus braços. Não é o máximo?!
E aí, tá esperando o quê?...
Mexa-se! Abrace essa idéia e vá abraçar todo mundo!
(Maria Balé, escritora, fotógrafa, possui a estranha mania de ter fé na vida; colunista do www.primeiroprograma.com.br
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