Meus amigos do Sport Run Club, em 22/07/2012.
"Não gosto da frase "fazer amigos". É como se aportássemos ao mundo com o dom de produzi-los a nosso bel prazer, à nossa imagem e semelhança... A divindade da amizade pertence a outro reino, onde os deuses da perfeição é que determinam as leis.
Amigos surgem em nossas experiências no mundo. Não são feitos, são trazidos a nós prontos e acabados, carregando na algibeira defeitos e virtudes, ora mais de uns, ora mais de outros. Não chegam a nós por obra do acaso, antes surgem em nosso caminho como resposta à lei natural da vida, que nos impele na busca eterna da completude. O poeta Vinícius já avisava: "a gente não faz amigos, reconhece-os." Reconhecê-los, eis o desafio primário...
A gente reconhece um amigo quando ele ocupa em nós espaços que, sem o saber, mantemos vazios. E fazem isso com generosidade e, às vezes, quando precisamos, com sua incômoda presença. Como espelho, o amigo nos mostra nossos mais evidentes e irritantes defeitos.
Como parceiro, ajuda-nos a ver o outro lado do mundo, o que há depois da próxima curva da estrada. Como conselheiro, acelera nossos passos quando seguimos lentos demais, e nos ajudam a observar o crepúsculo como um anúncio otimista da chegada da escuridão noturna.
Cultivar amigos, sim, é a expressão adequada. Cultivar é criar condições para o nascimento e o desenvolvimento de sentimentos recíprocos. É estabelecer as condições para que a troca entre duas pessoas aconteça, e seja tão rica quanto equânime. Eu dou, eu recebo. Eu planto, eu colho. Eu cuido, eu sou abençoado.
Como na agricultura, cultivar implica em saber conservar, manter, preservar as condições mínimas para que a amizade, qual planta, cresça - muitas vezes, e principalmente -, apesar das condições mais adversas.
Uma frase de Saint-Exupèry, repetida à exaustão, afirma que somos responsáveis por aquilo que cativamos. Para amigos, eu penso diferente: somos responsáveis, sim, por cultivar aquilo que a vida nos traz como presente divino. Perder um amigo é perder uma oportunidade única de se tornar alguém melhor".
(Autor: Alexandre Pelegi, jornalista e consultor, é editor do Primeiro Programa, na Rede Transamérica FM)
Editado em 05/10/2012.
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